Um trio elétrico menor em formato de garrafa e outro de nave estacionaram na concentração do Circuito Osmar (Campo Grande), em Salvador, na tarde de sexta-feira de Carnaval (28). Longe da imagem das carretas enormes que dominam o Carnaval baiano, os caminhões são compactos e retrô, mas são velhos conhecidos da história da folia na capital. Esse retorno à ícones dos trios elétricos decorreu do movimento Furduço e da ação da Prefeitura de Salvador em valorizar as raízes culturais da folia baiana,.
Com mais de 40 anos, o Caetanave, batizado assim em homenagem a Caetano Veloso durante seu exílio em Londres no começo dos anos 70, e o Saborosa abrilhantaram a estreia do Furdunço, coletivo de blocos, bandas e orquestras que resgata a gênese do axé e da própria pipoca, com muita fantasia, criatividade, hinos marcantes da música baiana e família na rua, que até então se sentia coagida com a violência dos circuitos fora da corda.
Raimundo Campos de Souza, mais conhecido por Mundinho Tapajós, olhava emocionado para os carros recriados a pedido de Carlinhos Brown, líder do Furdunço. Foi o engenheiro (sem formação) que também construiu os primeiros protótipos – uma evolução aos primeiros carros a passear nas avenidas, criados por Dodô e Osmar. No dia em que completou 73 anos, ele era só sorrisos. “A minha vida foi em cima do trio. É meu melhor presente de aniversário ver esses dois trios de volta à rua após 12 anos” ressaltou o carnavalesco.
Caetanave, que já recebeu Caetano quando o cantor voltou ao Brasil, e Saborosa voltam repaginados, graças à tecnologia das caixas de som. Continuam menores, mas resgataram a potência que há 12 anos os tiraram das avenidas. Afinal, conforme o tempo passou uma nova demanda dos grupos de axé ditou as regras: maior número de pessoas em cima do trio e caixas de som monumentais para estourar os decibéis. “A felicidade se perdeu um pouco com o passar dos anos. Perdeu personalidade e beleza [nos circuitos]. As bandas de hoje, se pudessem, colocariam um trem na avenida, não uma carreta”, comenta.
Antes de estrear no Furdunço com 200 percussionistas vestidos de egípcios, Brown cantou “Parabéns Pra Você” a Tapajós ao som da guitarrada dos anos 80, cheia de virtuose e empolgação. “O Carnaval é cíclico. Queríamos trazer a família de volta para a rua com segurança”, salientou Brow sobre o coletivo. É a volta do antigo Carnaval? “Ele nunca se perdeu. Só faltava encontrar seu espaço”.
A maioria do público aplaudiu a iniciativa. Um pequeno grupo vaiava e fazia gestos obscenos em direção ao Camarote do prefeito ACM Neto enquanto Brow elogiava o empenho da Prefeitura de Salvador em recuperar marcas culturais da folia.