Na manhã do sábado, dia 4 de junho, ocorreu no Auditório do IERP o I Seminário sobre Arborização Urbana de Jequié, que reuniu especialistas em áreas verdes, ambientalistas, professores, estudantes e representantes da Prefeitura de Jequié e do Ministério Público, para discutir e apontar alternativas viáveis de arborizar a cidade com espécies nativas e diversificadas e ter espaços verdes na área urbana de Jequié. O evento foi uma promoção do Grupo Ecológico Rio das Contas – GERC.
Aberto com exibição do documentário sobre o Projeto Mãe da Mata do GERC, o seminário contou com palestras da professora Rovelina Macedo, especialista em arborização urbana e do professor da Uesb da área de Botânica, Paulo Borges.
A professora Rovelina Macedo acentuou as árvores em um espaço urbano contribuem para diminuir o calor e a poluição sonora e proporciona sombra e lazer para a população. Ela disse que no período de verão é quase impossível uma pessoa caminhar pela Avenida César Borges por volta das 16h da tarde, uma vez que ao longo dessa avenida não tem árvores suficientes que dêem sombra para o praticante de exercício físico. Ela destacou também o fato de Jequié não dispor de árvores verdes públicas onde as pessoas possam caminhar, fazer leitura e praticar o ciclismo e condenou o fato da Praça Rui Barbosa tem sofrido uma reforma com a destruição das árvores. O local é denominado pela população de “deserto do Saara”, uma vez que durante o dia, nos períodos de sol forte, por conta das árvores que foram derrubadas, não tem sombra.
Rovelina Macedo mostrou através de slides bons exemplos de arborização urbana como a cidade de Curitiba e falou sobre a falta de planejamento na arborização urbana de Jequié em que “modismo” tem sido a regra, “um período foi plantado apenas algaroba, em outro somente amendoeiras e nos últimos anos o fícus”, ressaltando que assim como as florestas, o ecossistema urbano precisa da biodiversidade, ou seja, da diversidade da vida e por isso devem ser plantadas espécies diversas e de acordo com a localidade. Jequié, por ter solos rasos, a orientação de Rovelina Macedo é que sejam plantadas árvores de pequeno porte nas calçadas das casas e estabelecimentos comerciais e de médio e grande porte nos canteiros centrais da cidade. A especialista se reportou ainda a “mitos” sobre arborização do senso comum, como por exemplo sugerir que sejam plantadas árvores frutíferas como mangueiras. “Os frutos caindo em veículos quem se responsabilizará em sanar os danos?”, questionou.
Afirmando que é sempre procurado por pessoas que querem plantar uma árvore que “caia folha e não atraia bicho. Então é melhor adquirir uma árvore de plástico”, ironizou.
O promotor público da área de Meio Ambiente e presidente do Conselho Comunitário de Jequié, Mauricio Cavalcanti, afirmou que Jequié nunca teve uma política de arborização urbana e criticou o fato da Prefeitura de Jequié não procurar assistência técnica para planejar o plantio de árvores na cidade. “Com um curso de Biologia que tem a Uesb, com especialistas que tem o GERC, a Prefeitura não procura se informar e decepa e destrói árvores na cidade”, enfatizou. Segundo o promotor o Ministério Público entregou a órgãos vinculados a área ambiental e de serviços públicos em Jequié, em 2009, exemplares do livro Árvores Para Cidades, de Eloina Matos e Luciano Paganucci de Queiroz, mas de acordo ele “parece que o livro não foi lido porque nada mudou de lá para cá”. Mauricio Cavalcanti disse ainda que em Curitiba tem 12 parques na área urbana e em Jequié não tem nenhum.
O professor da Uesb, Paulo Borges, mostrou fotos da área urbana de Jequié e de cidades como Goiânia (a mais arborizada do Brasil e a segunda maior do mundo), de Curitiba e Manaus. Ao comparar essas cidades, Paulo Borges disse que Jequié segue a tendência de São Paulo de”muito concreto e pouco verde”.
Bosques Urbanos
Apresentando artigos da Constituição Brasileira e da Lei de Crimes Ambientais, o professor Paulo Borges disse que gestores públicos e populares que destruírem árvores podem ser punidos pela Justiça. O professor da Uesb disse que hoje tem tecnologia suficiente para evitar problemas com fiação elétrica por parte dos galhos das árvores. Paulo Borges criticou as pessoas que falam mal das folhas das árvores, mas não se incomodam com o lixo lançado nas ruas.
Palestrantes e ouvintes do seminário criticaram bastante a derrubada das árvores também na Avenida Alves Pereira sem que fossem plantadas outras no local. O assessor da Secretaria de Agricultura, Irrigação e Meio Ambiente da Prefeitura de Jequié, Renildo Peixoto, tentou justificar a destruição afirmando que as árvores impediam as câmeras “olhos de gavião” de focalizar roubos de estabelecimentos comerciais, provocavam problemas nas instalações elétricas e que reuniam muitos pardais que defecavam sobre os veículos estacionados. O professor Paulo Borges refutou as argumentações de Renildo Peixoto afirmando que “não será derrubando árvores que vai resolver o problema da violência, que pode ser feita instalação elétrica subterrânea e tentar impedir a presença de aves é um crime ambiental”. Ouvintes do seminário disseram também que por trás das argumentações de empresários para derrubar as árvores está na verdade o interesse em mostrar a fachada de suas lojas.
Renido Peixoto disse que Secretaria de Agricultura, Irrigação e Meio Ambiente da Prefeitura de Jequié assinará convênio com o GERC a partir do mês de julho deste ano para apoiar o Projeto Reflorestar a Vida (programa de produção de mudas nativas e educação ambiental) e está disposta a ouvir o GERC e a Uesb para planejar a arborização urbana.
O bispo diocesano D. Cristiano Krafp, presente no seminário, mostrou através de filmagens e fotos um programa alternativo de irrigação que ele realiza em Manoel Vitorino que permite plantar árvores na Caatinga.
O GERC que contribuído para implantar bosques, a exemplo do Bosque da Amizade na AABB de Jequié, está encaminhando um documento para Prefeitura de Jequié em que sugere a destinação de áreas para bosques urbanos e parque da cidade e o plantio de diversas espécies nativas no trabalho de arborização urbana.